Márcia e Renato Dante se casaram ainda novos e logo em seguida tiveram dois filhos, Paula e João Vítor. Mãe por vocação, Márcia abriu mão de sua profissão e dedicou às crianças 100% do seu tempo. Seus filhos, como ela mesma conta, eram “crianças encantadoras, alegres, saudáveis, amorosas e inteligentes”. Formavam uma família normal, com alegrias e dificuldades, mas acima de tudo muito unida e feliz. O tempo passou, os filhos cresceram, entraram na faculdade e algo inesperado aconteceu.

Enquanto a família Dante seguia sua vida tranquila e feliz, em um hospital de São Paulo nascia a pequena Manu. Portadora de mielomeningocele e de muitas complicações de saúde que comprometiam suas funções físicas e neurológicas, a menina foi abandonada pelos pais e ficou aos cuidados do hospital. Imediatamente o serviço social da instituição fez contato com a família biológica, mas não houve jeito de assumirem a menina. Começou, então, uma busca por interessados em adotar a criança, através dos bancos de dados de famílias interessadas em uma adoção. Porém, como se tratava de uma garotinha especial, ninguém demonstrou interesse.

Foi nesse momento que Paula Dante entrou na vida da Manu. A filha de Márcia e Renato estava cursando o último ano de Medicina e, fazendo estágio na pediatria, conheceu aquela pequena menina especial. Paula falava tanto naquela paciente, que seus pais se interessaram em conhecê-la. Foi amor à primeira vista. Pouco tempo depois daquela visita ao hospital, Manu entrava na vida da família Dante como a terceira filha do casal.

Necessidades do outro

Falando sobre o momento da adoção, Márcia conta que ela e o esposo sentiram que tinham condições de suprir todas as necessidades daquela criança. E as necessidades da Manu são muitas: ela respira por traqueostomia, alimenta-se por gastrostomia (portanto, a dieta dela é enteral), urina pela vesicostomia, não tem e não terá controle urinário e fecal. Além disso, tem dificuldade de alguns movimentos com o membro superior esquerdo e paralisia nos membros inferiores. Isso tudo sem falar nas necessidades materiais e especialmente emocionais.

Com esta experiência, Márcia e Renato dizem que se tornaram pais, cuidadores, enfermeiros, e guardiões, mas, acima de tudo, se tornaram pessoas melhores.

Olhando para atitudes como as desse casal, lembro de Jesus. Foi por puro amor que Ele deixou Seu trono de glória para fazer-nos novamente Seus filhos. Essa não foi uma decisão simples: doar-Se plenamente para resgatar a outros. A adoção, igualmente, não é simples. É uma imensa demonstração de amor por uma pessoa que, embora não tenha nenhum direito familiar, passa a ser plenamente integrada ao seio de uma família. Ela recebe um sobrenome que lhe dá plenos direitos, inclusive os de herança, tal como aqueles que apegados inteiramente aos méritos de Jesus, são feitos filhos e filhas adotivos de Deus: “Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual chamamos: Aba, Pai.” – Romanos 8:15.

Hoje, no Brasil, existem mais de 44 mil crianças que vivem em abrigos públicos nas mais adversas situações. Essas milhares de crianças esperam ansiosas pela possibilidade de voltarem aos seus lares ou de serem adotadas. São crianças que esperam pela oportunidade de ter suas vidas reconstruídas.

Como cristã, acredito que esse é um assunto que deveria ser tratado com mais atenção. Existem milhares de filhos e filhas de Deus que esperam por uma melhor oportunidade de vida e que poderiam ser alcançados pelo evangelho caso fossem adotados por famílias cristãs. “Necessitam-se pais e mães cristãos — até que a morte seja tragada pela vitória haverá órfãos que reclamam cuidado, que sofrerão mais que os outros se a terna compaixão e o amorável cuidado dos membros de nossas igrejas não se manifestarem em seu favor.” – Periódico adventista Review and Herald, 27 de junho de 1893.

A adoção é um ministério de primeira grandeza e admiro profundamente os que abrem o coração para uma iniciativa como esta. No livro Testemunhos Seletos, página 520, de autoria da escritora Ellen White, está escrito: “Tomai essas crianças e apresentai-as a Deus como oferta fragrante. Pedi sobre elas Suas bênçãos, e então moldai-as e afeiçoai-as segundo a ordem de Cristo. Aceitará nosso povo esse santo legado? Em virtude de nossa piedade superficial e da ambição mundana que nutrimos, serão deixados a sofrer aqueles por quem Cristo morreu, a enveredarem por errados caminhos?”. As duas perguntas finais desse texto devem mover nosso coração e focar nossos pensamentos e ações em atitudes que promovam a restauração e a salvação de outros. Pense nisso!

Márcia Ebinger