Uma das perguntas mais importantes que um filho adolescente pode fazer é: “Mãe, Pai, podemos conversar?”.1 O momento do diálogo com o adolescente é realmente importante, pois o sucesso na educação do adolescente depende, em grande medida, da maneira como os pais se comunicam com ele. Além disso, os adolescentes “que conseguem se comunicar com os pais são mais seguros de si. Comunicação sincera é prioridade número um” dos adolescentes.Vamos delinear alguns aspectos importantes numa conversa comum, corriqueira, os quais demonstram que, como pai ou adulto, você é um bom ouvinte.3

COMO SER UM BOM OUVINTE

Mantenha contato visual. Olhe para seu filho a maior parte do tempo. Um adolescente espera que um bom ouvinte olhe para ele. O filho (e qualquer pessoa!) se sente negligenciado quando o pai ou a mãe conversa com outro enquanto conversa com ele. Tenha boa postura. Utilize uma linguagem corporal que diga: “Estou ligado! Estou interessado!” Um pai com o olharvago, ou que fica andando, ou que tem as mãos no bolso, transmite mensagens que desencorajam o filho.

Em vez de críticas, faça perguntas. Utilize perguntas que facilitem e promovam a conversa, pedindo respostas mais longas do que apenas “sim” ou “não”. “Qual foi a sua reação” provavelmente é uma frase que ajuda mais a continuar a conversa do que “Quantos anos ele têm?”. Enfatize “ISSO” em vez de VOCÊ. Por exemplo: “Como ISSO aconteceu” talvez seja melhor do que “Por que VOCÊ gosta de bagunça?”.

Perguntas cuidadosas, não opinativas e tendenciosas, permitem continuar o diálogo. Em vez de afirmações de soluções, utilize afirmações de reflexão. Frases como “Por que você…”, ou “Você sempre…” podem cortar a conversa. Repetir afirmações do filho pode fazer a conversa fluir melhor: “Imagino que você ficou realmente chateado com o professor…”, “Filha, vejo como ele incomoda mesmo você…”.

Compartilhe sua experiência.  Conte histórias, piadas e casos que ajudaram você a superar seus desafios quando adolescente. Humanize-se ; evite palavras e atitudes do tipo “eu nunca aprontei”.

  Escolha o momento apropriado e esse momento deve ser, preferencialmente, quando ambos (adolescente e adultos) estão com a cabeça fria.

  Ao falar, cuide com o tom de voz, gestos, enfim: cuide com a linguagem corporal, pois o corpo fala muito e o adolescente é sensível o suficiente para ler as mensagens não verbais.

  Diante de algo que seja surpreendente para você, não reaja de forma exagerada, mas também não faça de conta que nada aconteceu. Difícil, né? Boa sorte!

  Ao falar, evite acusar, menosprezar e atacar o adolescente. Foque-se no problema e na solução do mesmo.

  Não se lamente, não se faça de vítima.

  Ao falar, seu objetivo não deve ser vencer a batalha, ou controlar o adolescente, mostrando-lhe quem manda em casa; o objetivo principal é encontrar solução para o problema.

  Caso não cheguem a uma solução adequada nos “rounds” da conversa, então marquem uma próxima conversa para terminar o assunto. Uma boa noite de sono pode ajudar a encontrar mais facilmente uma solução adequada.

O que fazer se, mesmo conversando, não se chega a uma solução adequada? Diante de uma situação de conflito extremo,pense nas seguintes opções:5

Assine um tratado de paz.  Pense num bilhete assim: “Filho, eu amo você. Que tal comermos uma pizza juntos? Depois, com menos fome e mais calma, podemos conversar numa boa. Peço desculpas por eu ter gritado com você, ok?”. Ou pode pensar num outro assim: “Filha querida, pode ter certeza de que eu amo você. Hoje reconheço que estava meio estressada e por isso não soube falar com você. Por favor, me desculpa. Aceita sair e comer um lanche comigo?”. É grande a probabilidade do filho ou filha não resistirem a uma manifestação sincera como essa. Por isso, vale a pena o adulto tomar a iniciativa de assinar um tratado de paz.

Faça uma reunião em família.  Reúna a turma e ouça o que cada um tem a dizer. Este é um momento para falar de expectativas positivas. Por isso, peça que cada membro da família dê sugestões de como melhorar o clima em casa, como melhorar o diálogo, como executar e dividir melhor as tarefas domésticas, etc. Escute com atenção e, se possível,estabeleça um prazo curto para pôr em prática as sugestões.

Veja a quem seu adolescente respeita.  Se as coisas não andaram muito bem até aqui, converse com uma pessoa que seu filho ou filha respeita e confia. Pode ser um professor, o pastor da igreja, ou mesmo um amigo. Essa pessoa poderá lhe dar dicas vitais para compreender a situação.

Grite por socorro!  Nem sempre conseguimos resolver tudo. E neste caso é saudável pedir ajuda a um profissional: psicóloga, terapeuta, conselheiro, pastor, etc. Geralmente, as pessoas de fora são capazes de enxergar outros ângulos do problema.

REFERÊNCIAS

1. Roger W. McIntire. Adolescentes e Pais – Orientação Educacional para uma Relação de Confiança e Respeito. São Paulo: M. Books, 2005, p. 19.

2. Michael Carr-Gregg & Erin Shale. Criando Adolescentes – Como prepará-los para os desafios da vida. São Paulo: Fundamento Educacional, 2003, p. 88.

3. Adaptado de Roger W. McIntire. Adolescentes e Pais, p. 39-40.

4. Adaptado de Michael Carr-Gregg & Erin Shale. Criando adolescentes, p. 92.

5. Ibidem, p. 98-99.

 

Adolfo Suarez É teólogo e Reitor do Seminário Adventista Latinoamericano de Teologia (SALT)