Muitas pessoas vivem com sentimento de ­culpa infundado; ­culpa falsa ou duvidosa. Isso lhes acarreta conflitos e as seguintes tendências: complexo de inferioridade, perfeccionismo, autoa­cusação constante, medo do fracasso (com o consequente estado de permanente vigilância) e ser demasiadamente exigente com os outros. Por outro lado, o sentimento de ­culpa é um re­curso útil que estimula a conduta correta e respeitosa, favorecendo a boa convivência. O sentimento de ­culpa real é sintoma de uma consciência alerta (algo muito desejável), que serve de autocensura e previne os delitos e a falta de moral.

Por muitos anos, Carlão viveu como se não tivesse culpa alguma diante da família que abandonou e da filha que cresceu com uma série de problemas emocionais em decorrência do que experimentou na infância. Agora, vivendo em uma casa de repouso e vendo a morte se aproximar, finalmente sua consciência parecia estar despertando. Mas o que fazer com esse sentimento? Não tinha mais como pedir perdão à esposa e a filha, como já vimos, se recusava a vê-lo. O desespero e a frustração aumentavam dia após dia.

Se a ­culpa é comprovada, o caminho é fazer os acertos e, em alguns casos, também obter o perdão. Quanto à ­culpa infundada ou exagerada, o processo é mais complicado e exige diversas atitudes:

Evitar os enfoques demasiadamente restritos – Os ambientes familiares ou sociais que exigem ou intimidam em demasia contribuem para uma consciência limitada, com o consequente risco de falsa ­culpa.

Controlar os pensamentos – É preciso manter a autoinstrução com mensagens assim: “Tenho feito o que posso.” “Não existe perfeição neste mundo.” “Os erros são ferramentas de aprendizagem.”

Amenizar as ­culpas – Falar dos sentimentos de ­culpa com um amigo de confiança ajuda a organizar nossas próprias ideias a respeito. Em todos os casos serve de alívio para reduzir parte da tensão criada por esse sentimento.

Praticar o perdão – Perdoar os outros ajuda no processo de perdoar a si mesmo, que é o objetivo principal do sentimento de ­culpa.

Recorrer a ­Deus – ­Deus está disposto a perdoar até as maiores falhas, aquelas que não são perdoadas em nível humano: “Embora os seus pecados sejam vermelhos como escarlate, eles se tornarão brancos como a neve; embora sejam rubros como púrpura, como a lã se tornarão” (Isaías 1:18).

 

Quando a consciência se torna pervertida

 


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A consciência nem sempre constitui uma norma de conduta sábia. Existem consciências demasiadamente limitadas e outras muito abertas. Os que são demasiadamente restritos esperam que o mesmo ocorra com os outros. E os liberais acham que tudo é bom. Por isso, Provérbios 16:25 diz: “Há caminho que parece reto ao homem, mas no final conduz à morte.”

Portanto, é necessário contar com normas externas e transcendentes, princípios éticos de valor universal. Não é em vão que o apóstolo Paulo advertiu seu discípulo Timóteo a respeito de alguns que, tendo a consciência cauterizada, mandariam os crentes fazer coisas absurdas (1 Timóteo 4:2, 3).

As consciências cauterizadas ficam insensíveis e incapazes de ser um guia de conduta confiável.

 

Saudável em justa medida


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Um estudo realizado por Grazyna Kochanska e suas colegas constatou que o sentimento de ­culpa, na medida exata, ajuda as crianças a observar as normas e respeitar os outros. Participaram dessa pesquisa 106 meninos e meninas em idade pré-escolar, que variava de dois a cinco anos. Para verificar a medida da ­culpa, os pesquisadores fizeram com que as crianças acreditassem que haviam estragado um objeto de grande valor. Logo após, observou-se a conduta de cada uma, e foi solicitada a opinião das mães e das próprias crianças. Estes são os resultados mais importantes:

  • As meninas demonstraram maior sentimento de ­culpa que os meninos.
  • Os pré-escolares de famílias bem estruturadas manifestaram menor culpabilidade.
  • O nível de ­culpa das crianças de dois anos mantinha relação com a autonomia moral das de cinco anos.
  • As crianças com sentimento de ­culpa violaram menos regras do que as que não sentiam ­culpa.
  • A medida justa da ­culpabilidade ajuda a prevenir a má conduta.

 

O perdão do Pai


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Uma das mais belas e conhecidas parábolas contada por Jesus é a do filho pródigo, registrada em Lucas 15:11-22. Trata-se da história do pai e dos dois filhos, um dos quais, cansado da vida pacata do lar, decidiu abandonar tudo e buscar a liberdade que tanto desejava. Como se não bastasse magoar o pai com sua atitude rebelde e ingrata, ele ainda pediu sua parte na herança da família, algo que os filhos só recebem quando os pais morrem. O pai, respeitando a liberdade de escolha do filho – Ele sempre respeita, lembra? –, deu-lhe o dinheiro. E o filho abandonou o lar.

Livre das restrições paternas, o rapaz passou a esbanjar o dinheiro em bebedeiras, festas e com mulheres. Enquanto tinha recursos, esteve cercado de “amigos”. Mas o dinheiro acabou e a fome bateu. O que fazer agora? Foi procurar emprego e acabou cuidando de porcos, um trabalho extremamente humilhante para um judeu. O jovem que se gabava de sua liberdade de repente se viu escravo das circunstâncias. Ele que reclamava da comida de casa, agora disputava a ração dos porcos para não morrer de fome. Onde estavam os “amigos” agora? As mulheres, o som de festa?

O texto diz que o jovem decidiu ir para “uma terra distante”, símbolo mais do que apropriado para o pecado – ele nos leva para longe de Deus e de nós mesmos. Arranca tudo o que há de bom em nossa vida, alimentando por algum tempo a ilusão de liberdade e alegria. Mas não existe verdadeira alegria longe de Deus, na “terra distante”. O que aquele jovem descobriu é que na “terra distante” só existem frustração, tristeza, humilhação, vazio e culpa.

No meio daquela situação deplorável, ele decidiu voltar com a intenção de ser aceito pelo pai como um de seus empregados. Esse filho tinha muito ainda a aprender sobre o homem para quem havia dado as costas. Mas, ainda que sua compreensão fosse limitada, ele sabia que o pai era justo e amoroso. E foi essa noção que o fez pensar em voltar. É sempre a bondade de Deus que nos leva ao arrependimento e nos atrai para Ele (Romanos 2:4; Jeremias 31:3).

Com a cabeça baixa, as roupas esfarrapadas e uma tonelada de culpa sobre si, ele se aproximou de casa, mas não surpreendeu o pai, que o avistou à distância e correu em sua direção, dando-lhe um abraço apertado, cobrindo sua miséria com a própria capa. O pai sempre estivera esperando. Nunca deixou de amar e recebeu o rapaz como filho, sem lhe jogar no rosto os pecados. O passado estava esquecido, os pecados perdoados, e ninguém podia dizer nada em contrário.

Satanás, o filho pródigo que nunca voltou para o Pai, é que vive contando a mentira de que o Senhor não pode aceitar pecadores de volta, a menos que eles sejam bons o bastante para poder voltar. Se esperar até que isso aconteça, o pecador nunca irá a Deus.

A mensagem central da parábola é o amor do pai, que claramente representa Deus. Ele nos aceita, nos perdoa, nos ama. Sempre. Esse conhecimento faria grande diferença na vida de Carlão e de todo pecador que vive sob a nuvem pesada do sentimento de culpa.

Você já tomou a decisão de voltar para o Pai?

 

Faça prova de si mesmo

Há uma íntima relação entre determinadas condutas e a ­culpabilidade. As perguntas seguintes apresentam condutas associadas à ­culpa. Responda com um SIM ou um NÃO.

  1. Você cresceu em um ambiente demasiadamente restrito?
  2. É muito difícil perdoar seus próprios erros?
  3. É difícil para você perdoar aqueles que o ofendem?
  4. Está constantemente atento, com medo de quebrar alguma regra, norma ou princípio?
  5. Você se assusta diante de qualquer indício de má notícia?
  6. Sente medo sempre que pensa no futuro?
  7. Fica muito aborrecido quando alguma coisa não sai de maneira perfeita?
  8. Sente-se excessivamente incomodado com a falta de pontualidade?
  9. Sente, com frequência, complexo de inferioridade?
  10. Sente-se facilmente desgostoso consigo mesmo e com os outros?
  11. Fica excessivamente preo­cupado com o julgamento que os outros fazem de você?
  12. Na sua imaginação, ­Deus está sempre descontente por causa de seus pecados e imperfeições?

Se você respondeu SIM para mais de três perguntas, é propenso à culpabilidade falsa e deve buscar soluções. Comece pelos conselhos citados anteriormente e, se for insuficiente, pro­cure ajuda profissional.